quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Berlim - Sachsenhausen

Quem pensa em algum dia ir à Auschwitz devia passar primeiro em Sachsenhausen só para sentir o clima de um antigo campo de concentração. Foi uma das visitas mais emocionantes que fizemos em Berlim. 

Estar dentro das fronteiras desumanas de um campo de concentração é inexplicável. Entrar no mundo onde monstros brincavam de Deus, e tinham poder de decisão sobre quem era digno, ou não, de participar da sua sociedade.. foi no mínimo triste. 

Parece exagero, eu sei, mas a partir do momento que entramos foi possível sentir a tensão que permanece na região. O campo foi construído próximo à uma cidadezinha, Oranienburg, e os moradores acreditavam que os prisioneiros estavam ali em reabilitação, sendo preparados para voltar a sociedade e ajudar na economia do país. Crianças eram encorajadas a jogarem pedras e frutas podres ao passares pelos portões, o que, as diziam, ajudaria na recuperação dos prisioneiros. 

Quando os inocentes vizinhos de Sachsenhausen perceberam o que realmente acontecia ali, já era tarde demais.. e se alguém se opusesse acabaria atrás dos muros também. 

Outro motivo para a construção próxima a cidade eram as fugas. Nunca houveram fugas bem sucedidas em Sachsenhausen. Por um lado, uma cidade inteira pronta para denunciar qualquer fugitivo em troca de uma recompensa, e do outro uma floresta gigantesca impossível de se encontrar. 

ARBEIT MACHT FREI

A visita durou em torno de três horas e meia, e foi um dos dias que mais passamos frio. A neve no chão fazia os pés congelarem e as camadas de roupa quase não eram suficientes. Enquanto nos encolhíamos de frio ouvíamos a guia contar que os prisioneiros, vestindo apenas uma calça e uma blusa, listrados, sem casacos (era um dos castigos que recebiam) e sapatos de madeira, geralmente grandes ou pequenos demais, passavam noites inteiras esperando alguém ser encontrado quando a contagem após um dia de trabalho não era exata. Era durante o trabalho que mais morriam pessoas. De fome, de frio, ou de calor. Sachsenhausen não foi, inicialmente, construído para extermínio em massas, mas as condições de vida e trabalho eram tão ruins, que as mortes eram inevitáveis.


Com a intensa perseguição aos judeus os métodos de liquidação em massa foram aprimorados. Câmaras de gás, onde os prisioneiros supostamente deveriam tomar banho e falsos consultórios médicos onde os prisioneiros eram fuzilados enquanto estavam sendo medidos, ao som de alta música relaxante, foram construídos, incontáveis vezes e impiedosamente utilizados.



Eu só queria ir embora por causa do cheiro de carne humana, de queimado, me chateava tanto que eu sempre pensava, isso é horrível. A pior coisa eram todos os corvos. O cheiro estava lá, então os pássaros, abutres, como eu os chamava, me levavam a loucura, e todos os dias os mortos. 

A cozinha, um dos únicos lugares do campo que não foi reconstruído, guarda relatos de pessoas que moravam ali. Presos políticos, judeus, religiosos, homossexuais, e marginalizados socialmente. As fotos arquivadas tornaram tudo muito mais real. Os rostos das pessoas que passaram por tudo aquilo, que não é só mais uma das histórias que meu professor contava na sala de aula.. é a realidade de mais de 200.000 homens e mulheres, não muito tempo atrás. Um andar a baixo, desenhos originais nas paredes mostram um pouco da personalidade e alegria reprimida pelo regime. Segundo a guia, se os guardas fossem pegos permitindo aos prisioneiros pintar as paredes, eles estariam em "pijamas listrados" em um piscar de olhos. 


O último lugar da visita foi o prédio da patologia, onde faziam experiências com os prisioneiros, usando-os literalmente como cobaias humanas. Mais uma das principais causas de morte no campo. É um dos piores prédios, não recomendável pra quem tem estômago fraco. 

Alguns sobreviveram, apesar da tortura, psicológica e física. Após a tomada da Alemanha pelos soviéticos em 1945, sim há apenas 68 anos atrás, eles foram libertados e o campo foi transformado em prisão política para os nazistas ou qualquer um que se opusesse ao regime, mas nunca mais foi utilizado para matar. 

Eles pareciam cheios de medo. Pálidos como defuntos, com faces transparentes, nada além de pele e osso. Pessoas cobertas de ulceras e feridas choraram de felicidade quando avistaram nossos soldados - especialmente os Poloneses entre eles, quando eles viram os soldados Polacos. 
Se vale a pena ir pra lá pra ver ver tanta tristeza? Não sei. Eu acho que nunca acreditei de verdade que essas coisas aconteceram com pessoas como eu, meu pai.., até ver os olhos deles ou o lugar onde dormiam, mas acho que não iria de novo. 









Nenhum comentário:

Postar um comentário